Summerhill


Você já sonhou com uma escola cujo pátio é uma imensa área verde, com gramados e árvores para as crianças subirem e brincarem o dia todo? E em seu sonho, elas só iriam para a sala de aula por interesse, e não por obrigação; não haveriam provas, nem testes? Seria uma escola em que todos, adultos e crianças, poderiam se expressar livremente, criar suas próprias leis de convivência, a partir de um acordo entre eles? E as crianças aprenderiam a pensar por elas mesmas, a fazer suas próprias escolhas e a assumi-las, a se sentirem responsáveis por si mesmas e pelo grupo, a serem confiantes; e aprenderiam a solidariedade, a tolerância, a liberdade? Você já sonhou com uma escola assim?

Para alguns, ela só existe em sonho, um sonho impossível, como uma utopia distante. Afinal, hão de se perguntar os mais céticos, como é que as crianças vão aprender alguma coisa, serem "alguém na vida", se nem chegam a entrar em uma sala de aula? Para esses, tal modelo de escola é uma idéia maluca, de algum rebelde romântico que, na prática, não prepara as crianças para a vida como ela é, para o mundo real em que vivemos, competitivo, agressivo, desigual.

Mas, para outros, essa escola não é um sonho a mais, ela é real e existe há mais de oitenta anos! Seu nome é Summerhill e foi criada em 1921, pelo professor e escritor Alexander Sutherland Neill. A. S. Neill e sua escola se tornaram mundialmente famosos no final dos anos sessenta, com a publicação de "Summerhill (A Liberdade sem Medo), Transformação na Teoria e na Prática", livro sobre a experiência revolucionária de uma escola-comunidade formada por crianças, jovens e adultos (diretor, professores e funcionários), que ganhou o apelido (irônico) na Inglaterra, de "escola faça-como-quiser" ("do as you like school").

MITOS E REALIDADE EM SUMMERHILL

É bem verdade que hoje a escola é quase uma lenda e, como tal, alimenta alguns mitos. Mas a realidade tem se encarregado de desmistificá-los. Nesses mais de oitenta anos de vida, por exemplo, não houve sequer um caso de gravidez, nem tampouco problemas com drogas ou bebida (o consumo é proibido na escola), também não foram registrados casos graves de doença ou de segurança - Summerhill é periodicamente inspecionada por órgãos governamentais. Também é fato contra mito (de que, sem uma disciplina rigorosa, os alunos se transformam em criaturas anti-sociais, quase selvagens), que a maioria dos visitantes se impressiona com a maturidade e com a polidez dos alunos. E, finalmente, contra o maior de todos os "contras" - a tese de que as crianças não poderiam sobreviver no "mundo real" - há uma realidade irrefutável. É só seguir os passos dos ex-alunos. Eles são felizes e bem sucedidos atores, artistas, arquitetos, homens e mulheres de negócios, médicos, fazendeiros, bailarinos, cineastas, ilustradores, jornalistas, carpinteiros, advogados, músicos, cientistas, fotógrafos, técnicos de som, cirurgiões, professores, escritores..., que guardam lembranças profundas e inesquecíveis de sua passagem por Summerhill.

São eles que garantem a sobrevivência da escola e, acima de tudo, a sobrevivência do "sonho" de liberdade proposto por A S. Neill. Para os que ainda não conhecem ou precisam de mais provas para acreditar, vale a pena assistir ao documentário "As Crianças de Summerhill", que a TV Escola vai apresentar no próximo dia 30 de junho, no programa "Ensino Fundamental". Pelos depoimentos, nos sorrisos e pelo brilho nos olhos de alguns entrevistados, pode-se concluir que a liberdade saiu vencedora!

 

Fonte: Karla Hansen